Trânsito é caso de saúde pública

7:20 - 2 dezembro, 2022

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O setor de trânsito custa mais US$ 500 bilhões para os países e o trânsito mata 1,3 milhão de pessoas por ano no mundo. No Brasil, foram 29.211 mortes em 2021. “Mesmo que a curva esteja decrescente, isso não significa um final feliz, porque o trânsito brasileiro realmente não é prioridade. Infelizmente, ainda é visto como assunto policial, porém se tornou caso de saúde pública nos últimos 30 anos”, disse João Pedro Corrêa, consultor paulista em Programas de Segurança no Trânsito e CEO da JPC Communication.

O alerta, um dos tantos na palestra Os Grandes Desafios da Segurança no Trânsito Brasileiro Pós-pandemia, foi dado na quinta-feira (2), primeiro dia do Seminário Gestão de Trânsito e Transporte. O evento, que segue até sábado, é promovido pela Associação dos Engenheiros e Arquitetos do Vale do Sinos (AEA Sinos) e conta com o patrocínio do CONFEA, Mútua-RS e Digicon, além do apoio do CREA-RS, EBM Telecom e Sinaleiro.

Segundo o especialista, embora o trânsito faça parte do cotidiano, ainda é um assunto desconhecido, pelos governos federal, estadual e municipal. “Na maioria dos Estados, o trânsito está nas mãos de secretarias de Segurança Pública, Justiça e, eventualmente, de Obras.” E advertiu: “Os governos não priorizam o trânsito. As indicações de comando deveriam ser técnicas e não políticas.”

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FALTA CULTURA DE SEGURANÇA – João Pedro Corrêa ressaltou que o caos do trânsito não se limita a não ter educação, mas, sim, da falta de cultura de segurança de modo geral. Por isso da importância do papel de engenheiros, arquitetos, professores e agentes de trânsito dominando mais essas questões.

“Em 1986, o Brasil despertou par as questões de segurança de trânsito. Naquele ano, houve o registro de 27.300 mortes e, pela primeira vez, um órgão do governo federal criou o documento Acidentes de Tráfego no Brasil – Um Flagelo Nacional Evitável. Ou seja, já se chamava atenção para esse problema, que até hoje não se tem domínio”, observou.

João Pedro, um dos idealizadores do Programa Volvo de Segurança no Trânsito – se tornou uma espécie de porta-voz da sociedade para acordar o país sobre a violência no trânsito –, também citou a criação do Código Brasileiro de Trânsito, promulgado em 1998, ano em que o número de mortes chegou a quase 31 mil.

O mérito do Código, conforme ele, foi o de organizar o trânsito, além de dar um susto nos motoristas com o valor das multas. Grande parte da sociedade começou a usar cinto, deixou de furar o sinal de trânsito e passou a respeitar a velocidade. “Era uma promessa que o trânsito iria tomar um pouco de jeito, mas, como tudo no Brasil, há leis que pegam e outras não pegam. O CTB ficou devendo muito”, destacou.

META – Prova disso está na oscilação dos números. “Em 2005 e 2010, os números de mortes subiram muito, pois as pessoas viram que a pressão do CTB não era pra valer. Nos últimos anos houve uma melhora, mas ainda tímida.” Comparando 1986 com 2020 (32.716 mortes), a população cresceu mais do que a metade e a frota duplicou, houve uma melhora, mas não suficiente.

A meta da segunda década mundial de ações no trânsito era de reduzir em 50% o número de fatalidades e “chegamos a pouco mais de 30%”. Em São Leopoldo, no período de 2010 a 2020 foram 377 mortes, sendo 297 homens e 80 mulheres, conforme o Datasus/Ministério da Saúde.

Mortes no Trânsito no Brasil

1998 – 30.890

1986 – 27.300

2005 – 35.994

2000 – 28.995

2010 – 42.844

2015 – 38.651

2020 – 32.716

2021 – 29.211

Sinistros fatais 11 municípios em 2021

1-         Porto Alegre – 82

2-         Caxias do Sul – 56

3-         Gravataí – 31

4-         Pelotas – 30

5-         Canoas – 34

6-         Passo Fundo – 30

7-         Santa Maria – 31

8-         Viamão – 21

9-         Rio Grande – 20

10-       Santa Cruz do Sul – 28

11-       São Leopoldo – 24

Desafios 2030

  • Brasil pronto para decolar
  • Há conhecimento, pessoal e recursos
  • Falta vontade política de agir (resultado árduo, lento e custoso)
  • Falta uma liderança para começar
  • ST é um processo, demora décadas para solidificar
  • Vale a pena: muitas vidas salvas, muitas perdas evitadas
  • Brasil precisa fazer parte do “pelotão de frente” da segurança
  • Se está muito atrás de onde se poderia estar
  • É preciso um plano real de ações de campo

Troca de ideias e oportunidades para encontrar alternativas para melhorar o trânsito

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Na abertura oficial do Seminário, o presidente da AEA Sinos, o engenheiro civil José Luiz Garcias, fez um agradecimento aos parceiros e participantes. Ressaltou a importância de se debater o trânsito, uma das maiores mazelas do País. “Esse é o terceiro evento deste ano com essa abordagem. A troca de ideias, com pessoas renomadas e conhecedoras do assunto, é uma oportunidade para encontrarmos alternativas para melhorar o trânsito”, salientou.

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Já o engenheiro eletricista e engenheiro de segurança do trabalho, João Otavio Marques Neto, que foi mediador no evento, também reforçou que o trânsito é deixado de lado em todas as partes do Brasil. “O prefeito se elege, escolhe o secretariado e deixa o trânsito de lado. Geralmente, as escolhas são feitas sem rigor técnico, o que gera uma balbúrdia no trânsito, provocando acidentes e mortes”, afirmou ele, que também é sócio administrador da empresa Sinaleiro Projetos de Sinalização Viária.

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Representando a presidente do CREA-RS, Nanci Walter, – estava participando do Colégio de Presidentes no Piauí – o engenheiro mecânico e engenheiro de segurança do trabalho Fábio Roberto Chaves, disse que a aproximação com as entidades e a destinação de recursos, via editais, para capacitação dos profissionais, são alguns dos objetivos, assim o trabalho com instituições de ensino e para trazer os estudantes mais para perto do Conselho gaúcho.

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Ao reiterar que, apesar de todo mundo precisar do trânsito, os problemas acabam caindo no esquecimento, o diretor geral da Mútua–RS, Pablo Souto Palma, disse que “eventos que trazem essa pauta tão importante para os municípios e Estados precisam ser mais constantes”.

MAIS PALESTRAS – Na quinta-feira, o ciclo de palestras teve continuidade com Francisco José Soares Horbe, da Metroplan, que abordou o Panorama do Sistema de Transporte Público Metropolitano de Porto Alegre. Já na parte da tarde foi a vez de Adão Castro Júnior, da SMMU de Porto Alegre, com o tema Reestruturação do transporte coletivo: uma necessidade para os novos tempos; Valdir Grassi Junior, da USP São Carlos (SP), com Veículos Autônomos – Desenvolvimento de sistemas de percepção e controle, e Hélgio Trindade Filho, da Digicon, com Tecnologias para o gerenciamento total do trânsito.

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Confira mais alguns momentos do primeiro dia do Seminário

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Assista aqui as palestras do dia 1/12:

https://www.youtube.com/watch?v=9bsQqsTSd9E&list=PLtdwAz9UkGa1sX_ALXHBDoUA1GqAVHcZe

Comunicação AEA Sinos

Marcia Greiner – (51) 99960-6865